
Em 2025, EUA já importaram 2,9 milhões de sacas de café brasileiro, respondendo por 17,1% do total. Tarifa sobre café brasileiro pode aumentar 400%
Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
A nova tarifa de 50% anunciada pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros deve impactar diretamente as exportações nacionais, especialmente do café. O Brasil, principal fornecedor do grão aos norte-americanos, atualmente tem uma taxação de 10% sobre o produto. Com o novo percentual, o aumento representa uma alta de 400% no imposto cobrado.
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Em 2024, o Brasil exportou 8,1 milhões de sacas para o país, um volume 34% superior ao de 2023, quando foram enviadas 6,1 milhões de sacas de 2023.
Neste ano, os EUA já importaram 2,9 milhões de sacas de café brasileiro no acumulado dos cinco primeiros meses.
“É o país mais importante em termos de consumo de café, ao redor de 24 milhões de sacas, e o Brasil é o principal fornecedor nesse mercado, com mais de 30% do market share”, afirmou o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos.
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Sílvio Luiz/A Tribuna Jornal
Segundo Matos, a entidade está fazendo uma agenda positiva junto à National Coffee Association, dos Estados Unidos. “É importante lembrar que o café gera muita riqueza nos Estados Unidos”.
O executivo destacou ainda que os EUA importam café e agregam valor na industrialização. “Para cada US$ 1 de café importado, são gerados US$ 43 na economia americana, 2,2 milhões de empregos e 1,2% do PIB norte-americano, uma vez que são gerados US$ 300,1 bilhões na economia. Isso porque 76% dos norte-americanos tomam café, é a bebida mais consumida hoje no mercado”.
Por fim, Matos espera que o bom senso prevaleça e a previsibilidade de mercado, porque quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano.
“Tudo que gera impacto no consumo é ruim para o fluxo do comércio, para a indústria e ao desenvolvimento dos países produtores e consumidores. Portanto, estamos esperançosos de que nós tenhamos uma condição muito mais apropriada e adequada para o comércio de café do Brasil para os Estados Unidos”.
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Dados
A possibilidade de recuo no envio de mercadorias ao mercado americano acende o sinal de alerta no Porto de Santos, que é o fiel da balança comercial nacional – escoa 30% do comércio internacional – e corre risco de perder cargas se não houver solução para o impasse.
Em 2024, os EUA importaram mais de 8,1 milhões de toneladas via Porto de Santos, atingindo R$ 12,8 bilhões. Isso equivale a 12,6% do total exportado pelo complexo portuário, segundo dados informados pela Autoridade Portuária de Santos (APS).
“Não há dúvidas de que a tarifa impactará o Brasil e forçará uma reorganização das relações com outros parceiros comerciais. Neste sentido, a Autoridade Portuária de Santos está preparada para atender a eventuais mudanças no perfil das movimentações”, informou a APS, em nota à Reportagem.
A gestora do principal porto brasileiro mencionou ainda que, incluindo os seis primeiros meses de 2025, tem prevalecido um superávit a favor dos americanos. “Se considerarmos os últimos 16 anos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a vantagem comercial chega a US$ 90 bilhões a favor dos EUA. Assim, esperamos que eles não concretizem a ameaça (de tarifação de 50%), inclusive porque sairão perdendo”.
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Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
Perdas
Segundo o advogado Emanuel Pessoa, doutor em Direito Econômico e professor da China Foreign Affairs University, cerca de 35% das exportações brasileiras destinadas aos EUA — estimadas em US$ 38 bilhões (2024) — passaram pelo Porto de Santos.
“Isso representa aproximadamente US$ 13,3 bilhões em mercadorias. Com a possível alta tarifária, projeta-se uma queda de até 25% nesse volume, o que resultaria em uma redução de cerca de US$ 3,3 bilhões no fluxo de exportações via Santos até dezembro”, analisou.
“Essa desaceleração prejudicará a arrecadação do Porto. Considerando uma receita média de 0,8% sobre o valor das cargas exportadas, o impacto direto na receita portuária pode ultrapassar US$ 26 milhões — o equivalente a aproximadamente R$ 145 milhões, na cotação atual”, complementou.
Também poderá haver recuo no transporte terrestre. “Com menos cargas partindo de estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná e Minas Gerais, o volume de fretes com destino a Santos pode cair entre 10% e 18%. Isso afetará transportadoras, cooperativas agrícolas e caminhoneiros autônomos, especialmente nos corredores logísticos Santos-Campinas-Rondonópolis, que concentram grande parte da movimentação de produtos agroindustriais e frigorificados para exportação”, disse Pessoa.
O especialista afirmou também que em um cenário moderado, estima-se que até 800 empregos diretos possam ser afetados apenas no Porto de Santos, além de cerca de 2 mil postos de trabalho indiretos nas áreas de logística, segurança e serviços gerais.
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Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
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