Dinheiro de investidores da B&B Capital não foi aplicado no mercado, diz relatório da Polícia Civil


Dono do escritório em Ribeirão Preto, SP, é considerado foragido desde 2023. Esquema de pirâmide operado sem conhecimento de vítimas causou prejuízo de R$ 40 milhões. Polícia conclui que B&B não aplicava dinheiro de investidores no mercado
Após dois anos de investigação, a Polícia Civil concluiu que o dinheiro depositado por investidores ao escritório B&B Capital, em Ribeirão Preto (SP), não foi aplicado no mercado financeiro.
De acordo com o relatório da polícia, o esquema de pirâmide operado pela empresa causou prejuízo de R$ 40 milhões a 227 pessoas.
“O que o setor de inteligência da Polícia Civil apurou foi que esse esquema praticado pela B&B era fraudulento na medida em que os valores investidos pelos poupadores não tinham a destinação prometida pela B&B Capital. Esses valores, muito embora creditados na B&B, eram em grande parte revertidos para os pagamentos dos clientes que naquele momento pediam o resgate, e outra parte, em valores expressivos, era repassada aos gestores da B&B”, afirma o advogado Leonardo Pontes, que representa 20 vítimas.
O caso foi denunciado pelas vítimas em março de 2023. Na época, o dono da B&B, André Luis de Jesus da Rosa, desapareceu deixando apenas um recado de que a empresa tinha quebrado.
As vítimas investiram economias com a promessa de rendimentos acima dos praticados no mercado. Os investidores acreditavam que as operações eram feitas por meio da BMF Bovespa e de produtos de investimentos em renda fixa.
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Andre Luis de Jesus Rosa é suspeito de aplicar golpe milionário em clientes de todas as regiões do Brasil
Reprodução/Redes Sociais
Ainda em 2023, a polícia concluiu o inquérito e indiciou André Luis e outros quatro integrantes da empresa por associação criminosa e estelionato.
Apesar dos dois mandados de prisão expedidos pela Justiça, Rosa é considerado foragido da Justiça. A defesa dele não foi encontrada para comentar o assunto.
Denúncia do MP
Em maio deste ano, as vítimas reclamaram que o Ministério Público (MP) ainda aguardava a conclusão do relatório da Polícia Civil sobre as movimentações financeiras do escritório para decidir pela denúncia ou não dos responsáveis.
Na época, a Promotoria informou que só o documento poderia fornecer detalhes de como funcionava o fluxo de dinheiro e as pessoas envolvidas na fraude.
“Esse relatório traz valores expressivos, alguns milhões de reais, em períodos curtos de tempo, o que demonstra que a movimentação era volumosa e constante. As vantagens para esses gestores também foram grandes”, afirma Pontes.
Segundo o advogado, a conclusão do relatório deve acelerar o trabalho do MP e ajudar as vítimas em um eventual ressarcimento no futuro.
“A partir desse relatório, os credores que se habilitaram e passam agora a ter acesso a esses dados conseguem identificar exatamente quem e em que medida, quantidade, participaram dessa gestão fraudulenta desses recursos (…) Cada um dos investidores lesados pode fazer com que figure no polo passivo de uma ação cível movida para fins de reparação desses danos, não só os materiais, mas os danos morais (…) Isso aumenta a chance dessas vítimas serem ressarcidas”, afirma.
Site da B&B Capital, escritório de investimentos em Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
Prática do escritório
As pessoas interessadas em aplicações financeiras pela B&B assinavam um contrato de prestação de serviços de administração de investimentos.
A empresa deveria fornecer consultoria e assessoria financeira, com finalidade de rentabilizar os recursos investidos pelo contratante utilizando-se de operações no mercado financeiro através da BMF Bovespa e produtos de investimentos em renda fixa.
Para isso, o escritório cobrava 50% da rentabilidade gerada mensalmente. De acordo com o contrato, a B&B garantia um repasse mínimo mensal de 2,5% sobre o capital investido. Para início da operação, o cliente deveria investir a partir de R$ 10 mil, transferidos para a conta da empresa.
A B&B Capital também garantia o resgate total ou parcial do capital, sem qualquer tipo de desconto para o cliente. Para sacar, o investidor deveria comunicar a empresa sobre o valor até o dia 5 de cada mês, e o depósito seria feito até três dias úteis depois.
Extratos obtidos pelo g1 na época da denúncia mostram que em um mês, uma aplicação inicial de R$ 100 mil tinha rendido R$ 2.766,85 — 2,76%.
Outro investimento, de R$ 91.685,59, rendeu R$ 1.746,61 em três semanas, sendo que os rendimentos chegaram a ser atualizados até três vezes na mesma semana.
Extrato de rendimento de cliente da B&B Capital em Ribeirão Preto, SP
Reprodução
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