
Militares na homenagem da FAB aos combatentes da Segunda Guerra Mundial, em Brasília.
Letícia Sena/g1
A Força Aérea Brasileira (FAB) realizou uma homenagem aos 80 anos do retorno dos combatentes da Segunda Guerra Mundial, conflito que aconteceu entre 1939 e 1945.
A cerimônia foi realizada na manhã desta quarta-feira (16), na Base Aérea em Brasília.
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Em entrevista ao g1, o professor Bruno Leal, da Universidade de Brasília (UnB), conta que a Força Expedicionária Brasileira, que lutou na Segunda Guerra, foi composta de 25 mil soldados.
Eles participaram de combates na Itália, entre 1944 e 1945. Mais de 400 soldados morreram.
👉 Entenda mais abaixo como foi a participação dos brasileiros na guerra.
Homenagem da FAB
Com IA, soldados que lutaram na Segunda Guerra ‘ganham vida’.
Durante o evento realizado na capital, homenagens lembraram a participação do Brasil na guerra, aviões da FAB cruzaram o céu e militares marcharam. Familiares de veteranos estiveram na cerimônia.
Através do uso de IA, fotos “ganharam vida” e soldados que lutaram na guerra se apresentaram para o público do evento (veja vídeo acima).
FAB faz homenagem para combatentes da Segunda Guerra Mundial, em Brasília.
Letícia Sena/g1
A cerimônia também celebrou o Dia dos Veteranos e o aniversário de nascimento de Alberto Santos Dumont, pai da aviação e patrono da Aeronáutica brasileira.
A Medalha Mérito Santos-Dumont foi entregue para autoridades políticas e militares que atuaram de forma relevante à serviço da Força Aérea Brasileira.
Por que o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial?
Navio Baependi foi torpedeado por um submarino alemão quando navegava pela costa de Sergipe, em 1942.
Biblioteca Nacional
O professor Bruno Leal explica que o motivo oficial para o Brasil entrar na guerra foi o torpedeamento de vários navios mercantes brasileiros. “Esses ataques começaram em 1941 e se tornaram frequentes, fazendo mais de 600 vítimas fatais”, diz.
Segundo Bruno Leal, o Brasil reconheceu o estado de guerra com Itália e Alemanha em 22 de agosto de 1942.
A decisão de entrar no conflito foi tomada pelo presidente Getúlio Vargas, após uma reunião com ministros.
“Mas o governo tinha uma agenda própria: fortalecer a posição brasileira na geopolítica internacional, no futuro pós-guerra, e fomentar uma frente doméstica que pudesse suavizar a imagem pública do governo autoritário”, fala Bruno Leal.
📌 O Brasil participou do grupo dos Aliados, formado por países como Estados Unidos, Reino Unido, França e a então União Soviética.
📌 Os Aliados combateram o grupo do Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão.
Como brasileiros reagiram à entrada do país no conflito?
Edição extra do GLOBO traz a notícia de que Brasil reconhece o “estado de beligerância” com a Alemanha e Itália, em 22/08/1942.
Acervo O GLOBO
Bruno Leal comenta que os ataques aos navios brasileiros gerou muita consternação pública. Centenas de famílias perderam pais, maridos, filhos e irmãos.
“Em algumas praias do Nordeste, os corpos apareciam nas praias, levados pela correnteza”, diz.
As mortes causaram revolta e protestos, com ataques em lojas e restaurantes de imigrantes alemães. As manifestações ocorreram em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Belém e outros estados.
“Naqueles anos da guerra, o carnaval carioca foi temático, o chamado ‘Carnaval da Vitória’, em que as letras dos sambas enredo falavam da guerra em curso”, destaca o professor.
Como foi a atuação no Brasil na guerra?
Entenda a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial
Segundo o professor Bruno Leal, os americanos não eram muito simpáticos a ideia do envio de tropas brasileiras. “Achavam que os nossos soldados seriam um fardo, muita gente para alimentar, treinas e vestir”, diz.
Mas o presidente Getúlio Vargas conseguiu enviar os soldados, graças a boa relação que ele tinha com o presidente Roosevelt, dos Estados Unidos.
As primeiras tropas brasileiras chegaram na Europa em 1944. Na Itália, brasileiros enfrentaram combates violentos.
“Os alemães eram muito agressivos e experientes; o inverno era rigoroso e o terreno montanhoso. As tropas brasileiras, contudo, superaram essas adversidades e tomaram várias posições importantes no país, derrotando os alemães e fazendo milhares de prisioneiros de guerra”, fala Bruno Leal.
O professor explica que a tomada de pontos estratégicos foi importantes para o avanço dos Aliados na Itália.
“Vale destacar ainda que o ‘Senta a Pua!’, o 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira (FAB), teve um papel super importante para as tropas em solo”, diz.
Os soldados brasileiros
Soldados da Força Expedicionária Brasileira na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.
Arquivo Nacional
Bruno Leal conta que os soldados brasileiros sofreram com o clima, combates diferentes e dificuldades com alimentação, equipamentos e até com a língua. “Até hoje, as tropas brasileiras são reverenciadas em vilas e cidades italianas, todos os anos”, fala.
O professor aponta que, depois de voltarem ao Brasil, não houve um bom plano de reintegração social. Pracinhas tiveram dificuldades para receber pensão e outros benefícios. “Algumas leis em seu auxílio demoraram décadas para sair”.
“Eu diria que sem os sodados brasileiros, os Aliados demorariam mais tempo para vencer as forças do Eixo na Itália – o que significa recursos e vidas”, destaca Bruno Leal.
Além dos soldados, o Brasil contribuiu com café, borracha e algodão, além metais de minério.
Depois da guerra
Bruno Leal explica como a Segunda Guerra impactou o Brasil:
Economia: rendeu grandes fluxos de investimentos, o que ajudou o país a impulsionar seu projeto de industrialização.
Política: redemocratização do país, bem como o próprio fim do Estado Novo e o enfraquecimento das elites rurais.
Geopolítica: protagonismo do Brasil na recém criada Organização das Nações Unidas (ONU). Prestígio conquistado a partir de 1945 permitiu a criação de um modelo de diplomacia que ainda orienta o país.
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