Tarifaço: USP aponta que ameaça a exportações afeta preços pagos ao produtor e desestabiliza mercados da pecuária ao pomar


Trump anuncia taxa de 50% ao Brasil
Se efetivada, a imposição de tarifa de até 50% sobre os produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto de 2025, pode comprometer receitas, provocar desequilíbrios de mercado e, principalmente, impactar nos preços pagos aos produtores, da pecuária ao pomar.
O suco de laranja, café, carne bovina e frutas frescas estão entre os itens mais expostos à medida. A análise é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) do campus da USP de Piracicaba (SP).
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🍽️Segurança alimentar
Os pesquisadores do Cepea ressaltam que “uma articulação diplomática coordenada” para rever ou excluir as tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros é urgente diante dos impactos previstos.
“Tal medida é estratégica não apenas para o Brasil, mas também para os próprios Estados Unidos, cuja segurança alimentar e competitividade da agroindústria dependem de forma substancial do fornecimento brasileiro”, aponta.
Veja abaixo, alguns dos setores analisados pelo Centro de Estudos da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo:
🥭Frutas frescas: Impacto nas exportações: O impacto imediato recai sobre a manga, cuja janela crítica de exportação aos EUA inicia-se em agosto.
Segundo indica o Cepea, já há relatos de postergação de embarques frente à indefinição tarifária.
📈 Até o anúncio da medida, a expectativa era de crescimento das exportações de frutas frescas em 2025, sustentada pela valorização cambial e pela recomposição produtiva de diversas culturas. “Contudo, o cenário tornou-se incerto”, alerta o Cepea.
Safra de uva
Felipe Dalla Valle/Secom RS
🍇A uva brasileira, cuja safra tem calendário relevante para os EUA a partir da segunda quinzena de setembro, também passa a integrar o grupo de culturas em alerta.
“A projeção otimista foi substituída por dúvidas. Além da retração esperada nas vendas aos EUA, há o risco de desequilíbrio entre oferta e demanda nos principais destinos, pressionando as cotações ao produtor”, analisa Lucas De Mora Bezerra, da equipe HF Brasil/Cepea.
Mercado do café analisa possível impacto do ‘tarifaço’ de Trump para a produção no Sul de Minas
Reprodução EPTV
Fluxos comerciais
🛳️A medida tende ainda a desorganizar os fluxos comerciais internacionais.
“Com a retração das exportações aos EUA, frutas que seriam destinadas ao mercado norte-americano podem ser redirecionadas à União Europeia ou absorvidas pelo mercado brasileiro, gerando um cenário de acúmulo de frutas nos canais tradicionais de comercialização e pressionando os preços ao produtor”, analisa o Cepea.
Persistem também incertezas quanto às importações brasileiras de frutas frescas, tanto em volume quanto em origem, frente à nova conjuntura global.
Carta de Trump ao Brasil tem a tarifa mais alta
☕Café: o impacto no setor cafeeiro é estrutural, alerta o Cepea.
“Como os EUA não produzem café, a elevação do custo de importação compromete diretamente a viabilidade econômica da cadeia interna, que envolve torrefadoras, cafeterias, indústrias de bebidas e redes de varejo”, analisa.
“A exclusão do café do pacote tarifário é não apenas desejável, mas estratégica, tanto para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira quanto para a estabilidade da cadeia de abastecimento norte-americana”, destaca Renato Ribeiro, pesquisador de café do Cepea.
No curto prazo, apesar de a safra 2024/25 ter assegurado boa capitalização aos produtores, a comercialização da safra 2025/26 avança lentamente, apontam pesquisadores do Cepea.
Com a queda nas cotações e a instabilidade externa, os produtores têm vendido volumes mínimos para manter o fluxo de caixa, postergando negociações maiores à espera de definições sobre o cenário tarifário.
Carne bovina é um dos produtos que Brasil vende tanto aos EUA quanto à China
Getty Images via BBC
🐂Carne bovina: Os Estados Unidos são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, respondendo por 12% das exportações, atrás apenas da China, que concentra 49% do total embarcado pelo Brasil.
“Dados da Secex mostram que, em junho, o volume adquirido pelos norte-americanos já foi o menor desde dezembro do ano passado, mas as exportações totais de carne bovina brasileira tiveram o segundo melhor resultado do ano, beirando as 270 mil toneladas”, observam os pesquisadores.
Suco de laranja tem menor volume exportado na safra 24/25, mas atinge receita recorde
Jornal Nacional/ Reprodução
🍊Suco de laranja: é o produto mais sensível à nova política tarifária.
“A aplicação de uma sobretaxa de até 50% elevaria significativamente o custo de entrada nos Estados Unidos. Atualmente, já há uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada sobre o produto”, pontua.
O aumento, segundo o Cepea, comprometerá a competitividade no segundo maior destino dos embarques brasileiros. Atualmente, os Estados Unidos importam cerca de 90% do suco que consomem, sendo o Brasil responsável por aproximadamente 80% desse total.
“Com a sinalização da tarifa, pesquisas do Cepea apontam que indústrias brasileiras já passaram a suspender novos contratos, limitando-se ao mercado spot, com valores entre R$ 40 e R$ 45 por caixa, diante do elevado grau de incerteza”, afirma o Centro da USP.
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Preço do suco de laranja nos EUA
Os EUA tornaram-se mais dependentes das importações de suco de laranja nos últimos anos devido a um declínio acentuado na produção doméstica, por causa de furacões, períodos de temperaturas muito baixas e da doença greening.
O greening afeta os pomares e diminui a qualidade e a produtividade da fruta. O estado da Flórida é o mais afetado. Ele representa 90% do suco de laranja americano. Os prejuízos por lá causaram uma retração de 28% na produção do país na safra 2024/2025.
Os preços do suco de laranja vêm enfrentando altas seguidas. A lata de 473 ml atingiu o preço recorde de US$ 4,49 em fevereiro deste ano (equivalente a R$ 24,84).
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