‘Minha filha não teve chance nem de se levantar’, diz mãe de mulher vítima de feminicídio, em Marizópolis, PB


Mãe de vítima de feminicídio conversou com a reportagem da TV Paraíba
Beto Silva/TV Paraíba
Maria Mendonça da Silva, a mãe de Francisca Carla Veríssimo Ramalho, vítima de feminicídio em Marizópolis, no Sertão, no dia 6 de maio, enquanto estava no trabalho, afirmou que a filha morreu sem chances de defesa. Além de Carla, o dono do estabelecimento onde ela trabalhava, o empresário Adriano Pereira Alves, também foi morto a tiros.
“Minha filha não teve chance de nem se levantar da cadeirinha que ela estava brincando com as crianças. Não sei como mantiveram a vida daquelas criatura, daquelas criancinha”.
Na sexta-feira (18), o sargento da Polícia Militar José Almi Pinheiro foi denunciado pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) pela morte de Carla e de Adriano. Ele e Carla tiveram um relacionamento, mas a mulher havia terminado há cerca de dois meses antes do crime.
A defesa do Sargento José Almi Pinheiro informou o caso se trata “de um episódio isolado e profundamente lamentável, cujas circunstâncias reais e jurídicas ainda serão devidamente apuradas durante a instrução processual […] A defesa reitera que a verdade real dos acontecimentos será devidamente demonstrada nos autos processuais, com base em provas técnicas e sob os cuidados do Poder Judiciário, que é o foro adequado para análise dos elementos que envolvem o caso”.
A denúncia detalha que Carla estava na calçada com três crianças quando o sargento chegou com os faróis do carro apagados. Ele desceu armado do veículo e atirou quatro vezes contra ela, inclusive quando já estava no chão. Em seguida, trocou de arma e atirou 10 vezes contra Adriano, que havia se escondido no banheiro do local.
Na época do caso, câmeras de seguranças registraram a ação do suspeito. Agora, novas imagens foram divulgadas.
Novo vídeo mostra como feminicídio aconteceu em Marizópolis, na Paraíba
Relacionamento abusivo
Em entrevista à TV Paraíba, a mãe e o irmão de Carla contam que ela relatava ciúmes e até agressões físicas por parte de José Almi Pinheiro. Em um dos episódios, antes do término, a mãe percebeu que a filha estava com um olho roxo.
“Um dia, ela chegou lá em casa, aí tomou banho e eu disse: ‘Carlinha, o que é isso roxo na tua cara? Nos teus olhos?’, ‘Não, mãe, foi uma dor de cabeça que deu em mim’. Eu disse ‘minha filha, conte as coisas direito’. Aí ela começou a chorar, e disse ‘mãe, foi um murro que ele deu em mim'”.
Mesmo após a separação, Maria Mendonça relata que a filha recebia ligações e mensagens do ex-marido com ameaças. “Ele jurando ela, sem ela querer me contar”. Carla não chegou a denunciar José Almi Pinheiro.
Ela estava trabalhando há pelo menos quinze dias no estabelecimento onde foi morta, segundo a mãe, com o objetivo de juntar dinheiro para comprar uma moto. Na noite em que foi assassinada, junto com Adriano, dono do local, a mulher estava jogando dominó com três crianças quando o homem chegou atirando. As crianças não ficaram feridas.
Vítimas de homicídio e feminicídio em Marizópolis
Reprodução/TV Cabo Branco
Os laudos confirmaram que os disparos foram à curta distância. As armas usadas foram apreendidas com o sargento, e exames de balística comprovaram que os projéteis encontrados nas vítimas partiram delas.
Segundo o Ministério Público, o policial agiu por vingança e ciúmes. Ele foi denunciado por feminicídio com agravantes de violência doméstica, meio cruel e surpresa, e por homicídio triplamente qualificado, por motivo de ciúmes, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Após o crime, José Almi fugiu para o Ceará e se entregou na cidade de Iguatu, onde foi preso em flagrante, ainda com as duas pistolas.
‘Que amor é esse?’
Além da mãe, o irmão de Carla, Francisco Veríssimo da Silva, conversou com a reportagem da TV Paraíba. Ele, que foi o primeiro familiar a chegar no local no dia do crime, conta que a mãe ouviu os tiros e ligou. “Minha mãe liga pra mim, eu dormindo, acordei (…). ‘O que foi mãe?’, ‘Vá lá que aquele cabra matou minha filha'”.
Segundo Francisco, o autor do crime acreditava que as duas vítimas estavam tendo um relacionamento, o que não era verdade, uma vez que Adriano tinha namorada. O irmão de Carla diz que está com problemas para dormir. “Que amor é esse? Isso é amor?”, reflete e se emociona. Ele conta que tudo mudou depois do crime. “Não durmo de noite. do jeito que eu me deito me levanto. Vou pro trabalho… não sei nem explicar um negócio desses. Uma barbaridade dessa”.
O advogado de acusação, Abdon Lopes, representa os familiares das duas vítimas. Em nome da família de Adriano Pereira Alves, o advogado declarou que estão todos emocionalmente abalados, sem conseguir falar sobre o caso.
Advogado das famílias quer pena máxima
De acordo com o advogado das famílias das vítimas, Abdon Lopes, a motivação do crime está diretamente ligada ao fim do relacionamento.
“O entendimento nosso não duvida que foi ele. Ele estava insistindo na volta do relacionamento, foi um meio cruel e um motivo de ciúmes. A acusação vai buscar a pena máxima”, afirmou o advogado.
O processo tramita na 1ª Vara Mista da Comarca de Sousa. O Ministério Público pediu a manutenção da prisão preventiva e o envio da denúncia à Corregedoria da Polícia Militar da Paraíba.
O sargento foi denunciado pelos crimes de:
Feminicídio (Art. 121-A do Código Penal), com agravantes de meio cruel, surpresa e violência doméstica;
Homicídio triplamente qualificado (Art. 121, §2º, incisos I, III e IV do Código Penal), por motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa.
O caso deverá ser julgado pelo Tribunal do Júri.
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