Governo Federal reconhece situação de emergência por fortes chuvas no município mais indígena do Brasil


Chuvas isolam comunidades e alagam plantações na região mais indígena do Brasil
O governo Federal divulgou nesta sexta-feira (1º) o reconhecimento da situação de emergência em Uiramutã, no Norte de Roraima. O município proporcionalmente mais indígena do Brasil sofre fortes chuvas e intensas cheias dos rios, que isolam comunidades inteiras, dificultando o acesso a serviços básicos como educação, saúde e transporte de alimentos.
O decreto é dessa quinta-feira (31) e foi assinado pelo secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff Barreiros. Assim como Uiramutã, outras 24 cidade também tiveram a emergência reconhecida.
O g1 esteve no município e o cenário encontrado é de crianças sem aulas, plantações arruinadas, pontes destruídas e estradas tomadas por atoleiros.
A reportágem procurou a prefeitura de Uiramutã e o Corpo de Bombeiros, questionou se há o interesse em se posicionar, mas não foi respondido até a última atualização desta reportagem.
🔎 Localizado na tríplice fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana, Uiramutã fica há 280 km da capital Boa Vista, e é o 10º mais populoso entre os 15 municípios do estado.
🛣️ A principal rodovia que leva a Uiramutã é a RR-171. Essa rodovia conecta o município à BR-433 e, consequentemente, à capital Boa Vista e outras regiões do estado. Fora da BR-174, o trajeto de Boa Vista até o município não tem asfalto, apenas estrada de barro, com buracos e lamas.
🔎 A região tem uma área territorial de 8.113,598 km². É lá onde está a maior parte da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Ao todo, são 222 comunidades indígenas em Uiramutã. 96,60% da população se autodeclara indígena, ou seja dos 13.751 habitantes, 13.283 habitantes são indígenas.
Do total de moradores, 60% da população está isolada por conta das chuvas. A prefeitura do município chegou a decretar, no dia 11 de julho, situação de emergência quando o número de isolamentos chegou a 8.334 pessoas. Mas, de acordo com a Defesa Civil Estadual, todas as comunidades da região estão sofrendo com as cheias.
“Todas as comunidades indígenas da região estão passando por dificuldades. É uma área de acesso extremo, com estradas ruins, serras, pontes precárias, igarapés. Quando chove lá, a situação se agrava muito. Toda aquela região está em situação crítica”, disse o tenente-coronel Leonardo Menezes.
Sede da cidade de Uiramutã, cidade proporcionalmente mais indígena do Brasil, onde nenhuma rua é asfaltada
Josivan Antelo/Rede Amazônica
O g1 percorreu quatro comunidades indígenas: Canapã, Barro, Makukem e Flexal — que não estão isoladas mas foram afetadas pelas chuvas — e ouviu lideranças que, entre lama e água, cobram providências.
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Chuvas isolam comunidades, alagam plantações e deixam crianças sem ir à escola no município mais indígena do Brasil
Por meio de nota, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pela manutenção de rodovias federais, informou que acompanha regularmente a situação da BR-433. Disse ainda que não foi registrada nenhuma ponte danificada ao longo do trecho sob a administração desta autarquia. A manutenção preventiva da rodovia está programada para ser executada após o período chuvoso.
Já a Secretaria de Infraestrutura (Seinf) de Roraima, responsável pela manutenção das vias estaduais, informou que as operações de manutenção de pontes e estradas na região estão temporariamente suspensas em razão das severas condições climáticas do inverno.
Duas empresas contratadas pelo governo do estado, responsáveis pela execução dos serviços, permanecem na região com o maquinário necessário, aguardando a melhora do tempo para retomar os trabalhos.
“O rigor do inverno tem causado a submersão de rios e pontes, além do alagamento de vicinais, inviabilizando temporariamente a continuidade das atividades de manutenção. A Seinf reforça que a segurança das equipes e a eficácia dos trabalhos são prioridades, e que a situação está sendo monitorada constantemente”.
Indígenas improvisam ponte para carro passar por igarapé na comunidade Barro, no Uiramutã
Caíque Rodrigues/g1 RR
Roraima passa pelo período chuvoso que compreende o mês de maio até setembro. De acordo com o meteorologista da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), Ramon Alves, o nível do rio Cotingo — que passa pelo município e desagua nos outros rios e igarapés da região –atingiu 440 cm neste mês, considerado alto.
As chuvas foram fortes durante o mês mas, de acordo com Ramon, a tendência é diminuir.
“Lá vem chovendo bastante, sim. Mas agora a tendência é de diminuir as chuvas e, consequentemente, os rios também devem baixar”, explicou o meteorologista ao g1.
De acordo com o meteorologista, Roraima só tem uma única estação meteorológica automática, que fica em Boa Vista, logo não há como saber se Uiramutã choveu acima do esperado.
O g1 procurou o Ministério dos Povos Indígenas, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Conselhor Indígena de Roraima (CIR), questionou se estão acompanhando a situação do município, mas não foi respondido até a última atualização dessa reportagem.
Indígenas usam quadricíclo para locomoção em vias alagadas, em Uiramutã
Caíque Rodrigues/g1 RR
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