Mulher esfaqueada pelo ex em MG perdeu bebê e segue ameaçada: ‘Se fez uma vez, ele faz de novo’


Mulher que foi esfaqueada pelo ex-companheiro continua sendo ameaçada
Só nos primeiros seis meses deste ano, 95 tentativas de feminicídio foram registradas em Minas Gerais. Uma das vítimas é uma mulher que estava grávida e foi esfaqueada pelo ex-companheiro em Campos Gerais (MG). Depois de perder o bebê , ela continua sendo ameaçada pelo homem que está foragido.
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O ataque aconteceu na madrugada de 18 de julho. A mulher, de 23 anos, estava dormindo quando o ex deu várias facadas no corpo dela e fugiu.
“O relacionamento dos dois é briga, era briga só. Só que ele ameaçava ela, que ia matar meu outro irmão, se ela largasse dele, amarrou ela na outra casa e aí ela ficou”, conta a irmã da vítima, Maria Micaela Caetano.
Grávida de 10 semanas, a vítima perdeu o bebê após ficar internada por 10 dias. Agora, quase um mês após o crime, a família teme pelo pior.
“Ele fala que vai vir acabar com a vida dela e pegar a gente. Ele falou pra ela que era pra ela brotar na favela, que ele tá morando em uma favela agora, que ele ainda vai terminar o que começou. Só que, igual eu falo, eu não tenho medo dele, só tenho medo por ela. Porque se ele fez uma vez, ele faz de novo, né?”, disse a irmã.
A mulher tem uma medida protetiva concedida pela Justiça. Para Micaela, porém, o documento não representa garantia de segurança, já que o suspeito continua foragido.
“Eu acho que isso aí [medida protetiva] não resolve nada. Se ele quiser vir terminar o serviço, ele faz. Porque polícia nenhuma… Se tivesse uma polícia, entre aspas, para ficar na porta da pessoa ou pôr a pessoa em outro lugar, aí, sim, eu acreditaria nessa medida protetiva. Mas só um papel. O que um papel vai fazer para salvar ela, caso ele pule aqui? Nada”, desabafa a irmã.
Violência contra a mulher
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Números preocupantes
Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, o estado registrou 72 tentativas de feminicídio no primeiro semestre de 2023. No mesmo período de 2024, foram 130. Este ano, até junho, já são 95 registros. Apesar da redução em relação ao ano passado, a violência ainda assusta.
A advogada Bruna Moura, que atua há cinco anos em programas de enfrentamento à violência doméstica, afirma que é preciso mais ação coordenada do poder público.
“É preciso ter um trabalho articulado entre o Ministério Público, Tribunal de Justiça, Polícia Civil, Polícia Militar, Rede de Assistência Social do município, Serviço de Saúde Mental. Todos esses órgãos precisam trabalhar de forma conjunta para oferecer a segurança que a mulher necessita”, disse.
Violência cíclica
A advogada explica que a violência contra a mulher geralmente não começa de forma repentina. Antes das agressões físicas, há sinais que indicam que a situação pode se agravar, como ofensas verbais, humilhações, ameaças e controle sobre a vítima.
“A gente diz que a violência é cíclica. Ela nunca começa com uma agressão física e ela começa com outros sinais. O feminicídio é um crime avisado”.
Ela lembra que esses indícios aparecem desde o início do relacionamento e tendem a se intensificar ao longo do tempo, passando pela violência moral, sexual e patrimonial. Por isso, identificar esses comportamentos logo no começo é essencial para quebrar o ciclo e evitar um desfecho trágico.
“Aqueles sinais começam desde o início do relacionamento, quando vai aumentando a tensão, quando começam as agressões verbais, quando começa a violência moral, a gente tem a violência sexual, tem a violência patrimonial. Então a mulher precisa buscar reconhecer esses sinais para que ela saia desse ciclo o quanto antes”, afirmou.
Segundo a advogada, é preciso compreender que vínculos afetivos saudáveis não provocam sofrimento. Se o relacionamento gera dor ou insegurança, é hora de procurar ajuda e entender que permanecer nessa situação pode colocar a vida em risco.
“Amor não dói. Então se o amor está te trazendo alguma dor, algum incômodo, procure o quanto antes entender a situação e sair dessa situação”, completou a advogada.
Investigação
Delegacia de Polícia Civil de Campos Gerais (MG)
Reprodução / EPTV
Em nota, a Polícia Civil disse que o inquérito policial já foi concluído e será encaminhado à Justiça para que o homem que está foragido seja denunciado.
A PCMG afirmou ainda que a situação da vítima está sendo monitorada de perto, sendo prestado todo o apoio necessário para garantir a segurança e preservar a integridade dela.
Enquanto isso, a família vive entre o medo e a espera por justiça. “Ele estando preso, a gente pelo menos pode dormir mais tranquilo”, disse a irmã da vítima.
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