‘Teve tempo de preparar a arma antes de atirar’, diz juiz ao descartar que empresário preso por morte de gari agiu por impulso


Veja trechos da audiência de custódia do empresário suspeito de matar gari em BH
O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, acusado de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes com um tiro, teve a prisão preventiva pedida pelo Ministério Público e decretada nesta quarta-feira (13) durante audiência de custódia.
Ao justificar a decisão, o juiz Leonardo Damasceno destacou que o crime não foi cometido por impulso, mas com uma sequência de ações que indicam preparo e intenção.
“Já sai com a arma em punho. Parece que o pente da arma caiu, de uma pistola semi-automática. Ele teve tempo de colocar o pente novamente, dar o golpe de manejo na arma, para jogar a munição para o gatilho, tocar na arma e, assim, efetuar os disparos. Toda uma dinâmica que mostra a periculosidade social do agente”, afirmou o juiz Leonardo Damasceno, da Central de Audiência de Custódia de Belo Horizonte.
Nesta quinta-feira (14), suspeito que estava no Ceresp Gameleira foi transferido para um presídio em Caeté, na Grande BH.
A defesa chegou a pedir o relaxamento, argumentando que não havia indícios suficientes para manter a determinação. O suspeito foi preso na segunda-feira em uma academia de Belo Horizonte, horas após o crime.
Os advogados destacaram que o acusado é réu primário, possui bons antecedentes e residência fixa. Além disso, a defesa de Renê pediu que o caso fosse colocado sob sigilo, mas a Justiça não atendeu à solicitação.
Personalidade ‘violenta’ e ‘desequilibrada’
O juiz também considerou a personalidade dele como “violenta” e “desequilibrada”. Ele apontou que Renê se sentiu confortável em ir treinar em academia após atirar e matar Laudemir.
O juiz não acolheu os argumentos. Ele alegou haver elementos suficientes para manter a prisão, como “perseguição ininterrupta” da polícia, identificação do veículo e reconhecimento de testemunhas. O magistrado também afirmou que se trata de um crime hediondo, e que é necessário punição.
“Ao que tudo indica, ele foi pra academia… quer dizer, comete um crime e vai treinar numa academia? Situação que merece apuração sobre a personalidade do agente”, afirmou o juiz Leonardo Damasceno, da Central de Audiência de Custódia de Belo Horizonte.
Empresário nega crime
Durante a audiência, o empresário negou o crime, afirmou ter ido para o trabalho, passeado com o cachorro e seguido para a academia. Ao sair do local, se deparou com os policiais e foi preso.
A prisão ocorreu com base no reconhecimento de testemunhas e em imagens de câmeras de segurança que flagraram o carro do suspeito em direção à rua em que o gari foi baleado, momentos antes dos tiros.
Duas armas, que pertencem à esposa delegada do suspeito, foram apreendidas na casa do casal e serão periciadas.
Justiça converte em preventiva a prisão do suspeito de matar gari em BH
Histórico de violência doméstica
Um outro fator de peso na decisão do magistrado foi o histórico de Renê com violência doméstica. O suspeito quebrou o braço da antiga companheira, segundo o juiz. Ele também tem histórico de agressões a outra companheira e um atropelamento, que terminou com uma morte.
A Justiça também apontou que a forma como o crime foi cometido impossibilitou a defesa da vítima, que estava indefesa.
“Chega um cidadão […] querendo passar de forma desequilibrada e violenta, sai do veículo, ameaça trabalhadores que prestam serviço público, coloca arma em direção a uma mulher motorista de caminhão falando que daria um tiro na cara da trabalhadora. Não satisfeito, volta com arma em punho […] e atira. Toda uma dinâmica que mostra a periculosidade do agente. É um homicídio qualificado, um crime hediondo”, complementou.
RESUMO: O que se sabe sobre o caso
IMAGEM: Câmera flagra momento em que gari baleado por empresário cai no chão em BH; VÍDEO
Cronologia
Laudemir Fernandes foi morto a tiros na manhã de segunda-feira após uma discussão de trânsito. Ele trabalhava na coleta de lixo quando, segundo testemunhas, o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior pediu que o caminhão fosse retirado da via, para que ele passasse.
A mulher que dirigia o caminhão afirmou que tinha espaço suficiente para o carro passar. Renê teria se irritado e ameaçado atirar na motorista. Os garis tentaram intervir e pediram que ele se acalmasse.
Renê, então, desceu do carro e atirou na direção dos garis, atingindo Laudemir.
O crime aconteceu no encontro das ruas Jequitibá e Modestina de Souza, no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte.
Horas depois, o empresário foi localizado em uma academia, no bairro Estoril, onde foi preso em flagrante. No momento da prisão, ele negou o crime.
O suspeito, casado com a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira, da Polícia Civil de Minas Gerais, foi levado para o Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Após o depoimento, ele foi transferido para o Ceresp Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte.
A Polícia foi até o endereço do casal, recolheu a arma que, segundo o boletim de ocorrência, resultou na morte do gari, e uma outra, ambas pertencentes à delegada.
A delegada Ana Paula foi conduzida para a Corregedoria da Polícia Civil para prestar esclarecimentos e teve o celular apreendido. Ela não estava presente no momento do crime.
A polícia investiga se houve negligência da parte da delegada na cautela da arma. Caso seja confirmado, caracteriza-se transgressão disciplinar.
Segundo as investigações, o empresário Renê da Silva Nogueira Junior não possui registro de arma de fogo nem porte de arma.
A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar a conduta da delegada, esposa do empresário, em torno dos crimes de omissão de cautela e prevaricação. Até o fim das investigações, ela segue no cargo.
Infográfico: Entenda caso de gari morto por empresário em BH
g1
Renê da Silva Nogueira Júnior, empresário preso por atirar em gari em briga de trânsito
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