Jair e Eduardo Bolsonaro são indiciados por coação na ação penal no STF sobre trama golpista; PF vê tentativa de fuga do ex-presidente


PF indicia Jair e Eduardo Bolsonaro por tentarem coagir ministros do STF
A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) por coação no curso do processo que investiga a tentativa de golpe de estado. A PF também apreendeu, na noite desta quarta-feira (20), o passaporte e o telefone celular do pastor Silas Malafaia.
Ele é suspeito de liderar uma ação para coagir ministros do STF a suspender a ação penal contra Jair Bolsonaro.
O relatório da Polícia Federal reúne os indícios colhidos por investigadores, como mensagens e áudios do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, segundo os investigadores, mostram:
um conjunto orquestrado de ações praticadas pelo grupo investigado, voltadas a coagir membros do poder judiciário e, mais recentemente, do poder legislativo (Câmara e Senado), de modo a tentar subjugar os respectivos chefes de poderes aos anseios do grupo criminoso, com a finalidade de obtenção de vantagem indevida.
As conversas estavam nos celulares de Bolsonaro, apreendidos pela PF. As mensagens tinham sido apagadas, mas os peritos da Polícia Federal conseguiram recuperá-las. O conteúdo dos aparelhos foi analisado pelos investigadores e, segundo a PF, confirma que Bolsonaro desrespeitava as medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal, e fazia isso de forma intencional.
Uma das conversas recuperadas é do dia 7 de julho, quando Bolsonaro ainda não usava tornozeleira eletrônica. Nesse dia, o presidente americano Donald Trump criticou em uma rede social o processo contra Bolsonaro.
Segundo a PF, Eduardo Bolsonaro enviou mensagens ao pai evidenciando que a real intenção dos investigados não seria uma anistia para os condenados pelos atos golpistas realizados no dia 08 de janeiro de 2022, mas sim, interesses pessoais, no sentido de obter uma condição de impunidade de Jair Bolsonaro na ação penal em curso por tentativa de golpe de estado:
Na mensagem recuperada pela PF, Eduardo afirmou:
Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos Estados Unidos terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar (…) temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto. (…) neste cenário você não teria mais amparo dos EUA, o que conseguimos a duras penas aqui, bem como estaria igualmente condenado final de agosto”.
Em 10 de julho, Eduardo enviou outra mensagem ao pai. Segundo a PF, o deputado estava advertindo Jair Bolsonaro da necessidade de publicar em uma rede social um agradecimento ao presidente Donald Trump pelas medidas aplicadas contra o Brasil.
A mensagem diz o seguinte:
“Opinião pública vai entender e você tem tempo para reverter se for o caso. Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você – segundo a PF, uma referência a Trump. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta. Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que por aqui as coisas mudem. Mesmo dentro da Casa Branca, tem gente falando para o 01: “ok, Brasil já foi. Vamos para a próxima”.
Ainda segundo a PF, no dia 15 de julho, Eduardo disse ao pai que a “Magnitsky no Moraes estava muito muito próxima”. 15 dias depois, os Estados Unidos aplicaram a lei Magnistky impondo restrições financeiras ao ministro Alexandre de Moraes.
A análise dos celulares de Bolsonaro também revelou que o pastor Silas Malafaia atuava em linha com Bolsonaro e o filho dele. Com base no relatório, o ministro Alexandre de Moraes autorizou uma operação de busca e apreensão contra Malafaia.
Na decisão, Moraes afirma:
“As ações de Jair Bolsonaro, conforme salienta a Polícia Federal, demonstram que o réu está atuando dolosa e conscientemente de forma ilícita, conjuntamente com o seu filho, Eduardo Bolsonaro, com a finalidade de tentar submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro estado estrangeiro, por meio de atos hostis derivados de negociações espúrias e criminosas com patente obstrução à justiça e clara finalidade de coagir esta corte no julgamento da ação penal”.
Em seguida, Moraes trata de Malafaia:
“A continuidade das investigações demonstrou fortes indícios de participação de Silas Malafaia na empreitada criminosa, de maneira dolosa e com unidade de desígnios com Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro”.
O ministro aponta o papel de liderança de Malafaia:
“Efetivamente, as mensagens no celular apreendido de Jair Bolsonaro indicam que Silas Malafaia exerce papel de liderança nas ações planejadas pelo grupo investigado, que tem por finalidade coagir os ministros do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades brasileiras, com claros atos executórios no sentido de coação no curso do processo e tentativa de obstrução à justiça”.
Ministro aponta o papel de liderança de Malafaia
Jornal Nacional
Moraes conclui:
“Há fortes evidências, ainda, que Silas Malafaia atua na construção de uma campanha criminosa orquestrada, destinada à criação, produção e divulgação de ataques a ministros do Supremo, no contexto de milícias digitais, em conduta absolutamente assemelhada àquelas investigadas no inquérito 4.874, conforme mensagem anteriormente descrita.”
O Jornal Nacional procurou as defesas de Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.
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