
‘Até lançamos granadas’: Crianças de 8 anos fazem ‘treinamento’ militar na Rússia
Rastejando na água rasa e na areia, como se estivessem em trincheiras, sob gritos de incentivo e segurando modelos “fake” do fuzil AK-47: a realidade da guerra da Ucrânia chegou às crianças russas, e simulações de treinamento militar viraram tendência nos últimos meses na Rússia.
Com a supervisão de soldados que lutaram na guerra, 83 crianças de idades entre 8 e 17 anos participaram de uma “marcha de percurso” na margem do rio Don, no sul da Rússia, na quinta-feira (21).
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A “brincadeira” envolveu rastejadas, corridas e simulações de combate, e muitas usavam uniformes camuflados. Algumas carregavam armas de verdade, enquanto outras empunhavam réplicas de brinquedo.
O exercício faz parte de uma tendência crescente na Rússia: ensinar até mesmo crianças pequenas habilidades que as preparem para um eventual serviço militar.
Um dos mais jovens participantes, o menino Ivan Glushchenko, de 8 anos, respondeu sem hesitar quando foi perguntado sobre a parte mais marcante. “Foi quando jogamos granadas de mão e disparamos tiros de mentira”, disse.
As crianças fazem parte de um grupo de cadetes organizado por cossacos na região de Rostov, perto da fronteira com a Ucrânia.
Crianças russas de 8 anos fazem ‘treinamento’ militar segurando AK-47 fake em Rostov, na Rússia, em 21 de agosto de 2025.
REUTERS/Sergey Pivovarov
“Por que estou aqui? Porque quero ligar o meu futuro ao serviço militar. (Quero) servir meu país e ser leal à minha causa até o fim”, disse Anton, um dos adolescentes mais velhos.
Outro jovem, David, disse que a “marcha de percurso” lhe permitiu testar seus próprios limites. “Isso me ajudou a descobrir quão forte é minha força de vontade.”
Críticos, como a organização independente de direitos infantis “Ne Norma”, afirmam que submeter jovens a treinamentos em estilo militar e ensiná-los nas escolas a manusear armas e construir drones militares é uma forma de doutrinação e propaganda.
As autoridades russas dizem que esse tipo de educação serve para incutir um patriotismo saudável e fortalecer a resiliência nacional.
Entre os instrutores em Rostov estava Alexander Shopin, um soldado russo ferido na Ucrânia e que aguarda cirurgia. Sua filha do meio foi uma das participantes.
Crianças russas de 8 anos fazem ‘treinamento’ militar segurando AK-47 fake em Rostov, na Rússia, em 21 de agosto de 2025.
REUTERS/Sergey Pivovarov
“Não é a primeira vez que participo dessa marcha. Eu gosto — de passar minha experiência às crianças. Dá para ver como se forja uma família entre eles”, disse Shopin. Ele contou que sua filha gostou da atividade, embora tenha achado difícil.
Após o treinamento, algumas crianças estavam claramente animadas. “Eu quase morri!”, exclamou uma adolescente. “Nós fizemos a corrida três vezes!”, disse a amiga, abraçando-a.
O instrutor Vladimir Yanenko afirmou que as crianças tiraram “compreensão e conhecimento” da experiência.
“O treinamento patriótico é muito importante”, disse ele. “Elas não querem ficar em becos sem saída. Para elas, é muito mais divertido aqui.”
Exigências de Putin para terminar guerra na Ucrânia
Trump diz que EUA e Europa vão coordenar garantias de segurança para Ucrânia
Para assinar um acordo de paz com o governo ucraniano, o presidente russo, Vladimir Putin, vai exigir ficar com todo o Donbas —região no leste da Ucrânia atualmente ocupado por tropas russas—, além de garantias de que o país vizinho não ingressará na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nem terá tropas ocidentais em seu território.
As informações são da agência de notícias Reuters com base em fontes próximas ao alto escalão do governo russo.
Caso confirmadas, as exigências colidem com as condições que o presidente dos EUA, Donald Trump, vem afirmando ter conseguido após reunir-se no Alasca com Putin na semana passada.
Uma delas é o envio de tropas ocidentais ao território ucraniano após o fim da guerra; outra, a de que a Ucrânia ficará “com muito território” — o Donbas corresponde a cerca de metade das áreas atualmente ocupadas por tropas russas.
As regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk compõem uma região conhecida como Donbas, uma abreviação de “bacia do rio Donets”. A região vive tensões entre a população ucraniana e a russa locais que remontam às Guerras Mundiais.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já afirmou que não abrirá mão do Donbas, porque isso também significará, segundo Zelensky, que Moscou seguirá tentando se expandir territorialmente até a Europa.
Segundo as fontes russas consultadas pela Reuters, Putin cedeu às demandas territoriais que apresentou em junho de 2024, que exigiam não só o Donbas, mas também Kherson e Zaporizhzhia, no sul.
Kiev rejeitou esses termos na ocasião por considerá-los equivalentes à rendição.
Em sua nova proposta, o presidente russo manteve sua exigência de que a Ucrânia se retirasse completamente das partes do Donbas que ainda controla, de acordo com as três fontes. Em troca, Moscou interromperia as atuais linhas de frente em Zaporizhzhia e Kherson, acrescentaram.
A Rússia controla cerca de 88% do Donbas e 73% de Zaporizhzhia e Kherson, de acordo com estimativas dos EUA e dados de fontes abertas.
Entenda a ocupação russa na Ucrânia
Arte/g1
Moscou também está disposta a entregar as pequenas partes das regiões de Kharkiv, Sumy e Dnipropetrovsk, na Ucrânia, que controla como parte de um possível acordo, disseram as fontes.
Putin, no entanto, manteve suas exigências anteriores de que a Ucrânia desista de ingressar Otan e de que a aliança militar estabeleça um compromisso juridicamente vinculativo de que não se expandirá mais para o leste
O líder russo também quer a garantia por escrito de que nenhuma tropa ocidental seja enviada à Ucrânia como parte de uma força de paz, disseram as fontes. No início do ano, a União Europeia propôs criar uma força de paz composta por solados europeus que estariam na Ucrânia não para lutar ao lado das tropas de Kiev, mas para garantir o fim de combates.
Nesta semana, Trump afirmou que as tropas de paz serão compostas por europeus.
O que cúpula do Alasca significa para Trump, Putin e Zelensky em 6 pontos.
Getty Images
Procurado pela Retuers, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia não havia se manifestado sobre as supostas exigências até a última atualização desta reportagem.
A Casa Branca e a Otan também ainda não havia se manifestado.
O cientista político Samuel Charap, chefe de Política para Rússia e Eurásia do centro de estudos políticos Rand, disse que qualquer exigência para que a Ucrânia se retire do Donbas continua sendo inviável para Kiev, tanto política quanto estrategicamente.
“A abertura à ‘paz’ em termos categoricamente inaceitáveis para o outro lado pode ser mais uma encenação para Trump do que um sinal de uma verdadeira disposição para chegar a um acordo”, acrescentou. “A única maneira de testar essa proposição é começar um processo sério no nível de trabalho para discutir esses detalhes.”